É um belo dia de sol, depois de
muitos dias sorumbáticos de agosto na capital dos gaúchos. Fecho os olhos, abro
coração e ouvidos para harmonizar-me com a sinfonia da vida... E não adianta,
por mais que seja frustrante e desolador, não consigo captar a beleza urbana. A
sonoridade da cidade, em especial dessa grande cidade, não consegue ganhar meus
ouvidos. Não dialoga com minhas memórias ou projeções, não concorda com meus
anseios utópicos.
As metrópoles multimídia espalham seu
padrão da fala, de hábitos, de vida. E não há maneira de me sentir parte disso.
Final de tarde pode-se ir ao shopping ver um cinema, mas eu queria mesmo era
puxar um banco pra frente das casa e tomar um amargo dando um saludo para quem
passa. Final de semana pode-se colocar as coisas no carro e subir a serra ou
descer para o litoral, conforme o tempo, mas a minha vontade era d’emalar os
arreios e largar pra campanha com qualquer céu. Meus vizinhos estranham porque
divido os sacos de laranjas, as dúzias de ovos e cozinhadas de mandioca que
ganhamos pelas andanças.
Nós, provincianos desgarrados, somos
assim, buscando na janela a inspiração pra falar dos galpões nos edifícios
(parafraseando o “Guri do campo”). E não tem nada a ver com as fantasias
“pilchadas até os dentes” do tradicionalismo, dentro das regras da cartilha.
Isso é pura representação figurativa do que não é a realidade cotidiana do
rural. Ou como a pesquisadora Renata Menasche (PGDR/UFRGS) classifica, são apenas
rasgos de uma “tradição inventada”, tão falsa como a saia dos escoceses.
Esse jeito de ser não é gaúcho porque
é do Rio Grande do Sul, é sim interiorano, é caboclo e é caipira, como se
trataria em outros lugares do país. Porque a maior parte do nosso povo está em
cidades de pequeno e médio porte e com características essencialmente rurais,
só que o motor da sociedade é feito e guiado pelos urbanos. E aqui vale uma
reflexão sobre o que se comenta das pequenas cidades, da necessidade de
desenvolvimento e de propiciar acesso a bens e serviços para garantir qualidade
de vida... Ora, se na capital anda-se nas belas ruas asfaltadas na velocidade
da carroça e a civilidade xinga-se aos berros no trânsito; toma-se um coquetel
de remédios para que os pulmões aguentem a poluição, a cabeça aguente o barulho
e o corpo aguente a pressão; e quando termina a semana todos entopem as
estradas pra fugir; ganha-se mais e gasta-se muito mais ainda. Há mais
recursos, e há mais necessidade concentrada de utilizá-los. É isso que querem
vender para o interior como cultura universal?
Quando conseguimos falar de nossa
aldeia, conseguimos ser universais, isto sim! Porque nenhum “oh, de casa!” é
necessário ser traduzido. Por isso não é contraditório ser provinciano e
cosmopolita. Assim me sinto. Tenho a necessidade de conhecer outros lugares,
dialogar com diferentes vertentes, porque sou desse tempo “pós”... pós-moderno,
pós-industrial, de uma sociedade global que procura sua nova identidade no meio
dessa miscelânea de crise ambiental na era da informação. Até blog eu fiz pra
falar de terra!
Mas viver assim, amontoado, anônimo e
embretado em meio ao concreto, não é para provincianos! Quero pensar que estou
só de cruzada, tentando captar o que serve, mesmo que seja a saudade...
Vou tomar também as palavras do Mario Eleú, pra lembrar dos meus, de quem tanta saudade sinto nesses tempos de capital...
“Estende a mão, cumprimenta
Também retira o chapéu
Sabe quando muda o tempo
Bombeando as nuvens no céu
Lá pras bandas da fronteira
Se parece um João Barreiro
Zeloso, cuida do pago
Com cisma de peão caseiro. (...)
Provinciano, pêlo duro, te juro
Sei do teu amor sem fim
Por esta querência amada
E pela vida sossegada
Porque eu também sou assim (...)”
Bem-vinda ao mundo dos blogueiros!!! Abração!!!
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